segunda-feira, 28 de maio de 2012

Doutorando enviou uma carta ao jornal "Diário de Santa Maria" esclarecendo sobre a pesquisa.


"Devido à publicação de reportagem publicada nos jornais Diário de Santa Maria e Zero
 Hora no dia 10 de maio, cujo teor questionou a eticidade do projeto de doutorado e
 denunciou supostos maus tratos ao animais do experimento, venho tecer algumas 
considerações com a finalidade de esclarecer os objetivos e a condução desta pesquisa 
além de apresentar pontos importantes que afastam as acusações, fundadas em denúncias
 anônimas, contidas na matéria citada.

Estudos demonstram que a cavidade oral, objeto do experimento, é o quarto local mais
 acometido por neoplasias em cães, representando 6% de todos os tumores nesta espécie.
 O tratamento de escolha é a cirurgia, sendo necessária a remoção de todo o tumor, com
 boa margem de segurança. Entretanto, algumas complicações estão associadas a estes
 procedimentos. Após a cirurgia são esperados edema da pele e da mucosa, infecção,
 uma vez que a cavidade oral é bastante contaminada, os pontos abrirem, protrusão
 da língua, o animal ficar babando constantemente, má oclusão e degeneração da articulação
 da mandíbula, úlceras.

A breve recuperação das funções orais é de extrema importância para uma melhor
 apreensão, mastigação e deglutição dos alimentos. Além disso, a falha produzida na
 mandibulectomia para remoção dos tumores orais promove uma lacuna óssea de difícil
 cicatrização. Outro aspecto importante é que muitos proprietários não aceitam a realização
 da cirurgia devido à alteração na conformação facial que a mandibulectomia ocasiona.

As reconstruções mandibulares, pouco descritas em cães, são amplamente utilizadas na 
medicina humana para corrigir defeitos estéticos e funcionais dos pacientes. Para tal reconstrução
, placas de titânio são usadas por serem biocompatíveis e terem comportamento mecânico o mais
 próximo possível do osso, sem a necessidade de remoção da placa, com intuito de retorno da
 função fisiológica mais rápida e uma aparência estética melhor. Os principais objetivos da
 reconstrução mandibular em seres humanos são a manutenção estável da ventilação; a
 restauração da mastigação, da deglutição e da função vocal; a possibilidade de aplicação de
 implantes dentários e o retorno do contorno mandibular normal e a manutenção da estética 
facial. Muitas pessoas que sofrem de câncer na cavidade oral, devido a estes defeitos funcionais
 e cosméticos, acabam vivendo reclusos aos olhos da sociedade.  

Sobre a aplicação desta técnica cirúrgica em cães no projeto de doutorado é que ocorreram 
denúncias de maus-tratos aos animais. Refuto o acontecimento destes fatos e afirmo que esta
 pesquisa sempre respeitou as normas da experimentação animal, tendo tido a aprovação do
 comitê de ética da UFSM, com controle severo da dor nestes pacientes, e sempre com os meus 
cuidados e/ou da minha equipe de pós-graduandos e estagiários.

O experimento se baseia em uma primeira fase com peças anatômicas para o desenvolvimento
 de próteses e testes para se verificar a sua aplicabilidade, no qual a técnica se mostrou viável.
 Porém estava prevista fase em animais experimentais, pois uma coisa é fazer os estudos em
 peças e outra em animais vivos. Como se trata de um método novo e inovador na Medicina 
Veterinária
 se desconhecem as taxas de possíveis complicações deste procedimento, por isso a importância
 da
 fase experimental. Em humanos, as complicações mais observadas na técnica de reconstrução
 mandibular se devem a falhas nas placas e nos parafusos e a falhas no sistema de cobertura 
dos tecidos, acarretando um quadro de infecção e até perda do enxerto, além das complicações
 da remoção de parte da mandíbula como citado acima.

Assim, muitas possibilidades de complicações poderiam ocorrer como em qualquer procedimento 
cirúrgico, e a utilização destas próteses seria justamente para se tentar eliminar ou minimizar
 as complicações da simples remoção do tumor sem a sua posterior reconstrução. E, depois de
 se obterem os resultados da viabilidade de sua utilização in vivo, viria a terceira fase, que seria
 a sua utilização em animais com câncer. A passagem da primeira fase, em peças, para a terceira
 fase,
 em pacientes com câncer, poderia acarretar consequências imprevisíveis para estes animais,
 visto que 
é um procedimento novo, que, como já dito, não se sabe exatamente a sua viabilidade ou não
 em animais
 vivos.

Verificou-se que alguns animais apresentaram complicações e, tendo em vista que algumas
 delas
 deixariam sequelas, optou-se pela eutanásia deles, como melhor opção para o animal, mais
 ética,
 frente ao sofrimento que eles teriam permanecendo vivos. Os demais animais serão
 encaminhados
 para a doação, pois se encontram bem, podendo, apenas alguns, ter que tirar a placa
 que se
 apresentar pequena exposição, mas sem contaminação do local.

Apesar do que acima foi dito, a mencionada reportagem expôs afirmativas falsas sobre 
o projeto,
 afirmando ter havido remoção de parte ou de TODA a mandíbula, quando na verdade,
 é somente
 de uma parte da mandíbula. Também não houve maus-tratos dos animais. Muito 
diferentemente
 do que diz a reportagem, os animais não estão jogados, abandonados e magros, pelo
 contrario, eles
 estão com peso bem acima de quando se iniciou o projeto. 

Se por um lado a preocupação da reportagem ser de extrema importância, abordando o
 tema do
 bem-estar dos animais, pro outro foi baseada tão somente em denúncias anônimas, de
 acusações "de
 que ouviram falar disso e daquilo," sem, no entanto, terem o conhecimento do experiment


e das suas condições. 

Com base nestes testemunhos anônimos (que a reportagem se nega a divulgar), a minha
 imagem 
e o meu nome, este sim divulgado, viraram símbolos de maus-tratos dos animais, especialmente 
de pessoas
 que não concordam com experimentos em animais, que é um assunto polêmico. Reforço 
aqui que a 
utilização de cães como cobaias deveu-se justamente por se tentar eliminar ou diminuir
 as complicações do
 tratamento do câncer em cães. Dado o exposto, gostaria de reiterar minhas considerações,
 ratificando minha
 conduta ética. Fico à disposição dos órgãos responsáveis para eventuais esclarecimentos."




O Diário publicou que havia cães no local, mas uma semana depois uma veterinária responsável pelo local me ligou que havia pego a cadela da reportagem (foto) mas não podia ficar com ela, pois ja havia mais 6 cachorros de experimentos na sua casa e queria que eu a adotasse. Poisé, nem isso a universidade se responsabilizou, pelos cuidados da cachorra, nem a universidade, nem o doutorando, não passou da boca pra fora do reitor.

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